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16/07/2013

Joaquim



JOAQUIM
Mario Schiavelli

    Joaquim esse é o meu nome. Não queiram saber o meu sobrenome, é um dos típicos de descendência espanhola. Admito que sou um homem muito metódico. Eu não gosto de mudanças. Eu nunca mudei de emprego ou de esposa e as minhas ideias, opiniões e pensamentos sempre foram os mesmos. Reconheço que devo parecer chato, mas sou desse jeito e é isso o que me dá uma sensação de segurança e controle sobre a minha vida.
    Todas as manhãs, Martha - esse é o nome da minha linda mulher com quem casei há 38 anos, 11 meses e 18 dias - entra sempre no nosso quarto com uma fumegante xícara de café com leite, coloca-a sobre meu criado-mudo, vai para a janela, abre as cortinas, olha para fora e não importa como estiver o dia, ela sempre faz o mesmo comentário sobre o tempo. Aproxima-se da cama, dá-me um beijo na testa e sai do quarto á cozinha para preparar o café da manhã.
    Ah! Eu amo as minhas manhãs! Não as trocaria por nada desse mundo!
    Nesta manhã, um pequeno raio de luz me iluminou e acordei num sobressalto. Obviamente Martha – a minha amada mulher com quem casei há 38 anos, 11 meses e 18 dias - não tinha fechado corretamente as cortinas na noite anterior. Pensava falar isso durante o café da manhã para que nunca acontecesse de novo!
    Não estava bem acordado e decidi ficar mais algum tempo na minha cama, num delicioso cochilo esperando a minha fumegante xícara de café com leite que a Martha, minha adorável esposa certamente traria, como era costume, às 7h15.
    7h16, 7h17, 7h18, 07h19 e meu fumegante café com leite ainda não chegava. Às 7h30 ou 7h31, não lembro bem, deixar a minha cama e ver o que tinha acontecido. Era a primeira vez que acontecia uma coisa desse tipo (é por isso que conto para vocês). Coloquei o meu roupão, o mesmo que uso há 38 anos, 11 meses e 18 dias (foi um presente da minha querida mãe, RIP, o dia do meu casamento com a Martha, a minha adorável esposa). Desci as escadas e fui até a cozinha. Estava frio, muito frio. A minha respiração fazia pequenas nuvens de vapor em frente ao meu rosto.
    Marta, minha adorável esposa, não estava na cozinha; não tinha preparado nem levado para a cama o meu café com leite às 07h15 como sempre fazia, e mais estranho ainda, ela nem tinha preparado o café da manhã. Olhei pela janela da cozinha que dava para a rua, os vidros estavam embaçados pela minha respiração. Cheguei a ver umas luzes de cor azul e vermelha que brilhavam bem frente á minha casa. Fui até a porta, abria-a e vi que a Martha, minha adorável esposa estava sendo levada de mãos algemadas por dois policiais até uma viatura. Senti um grande arrepio no meu corpo e vontade de gritar, mas a conversa de duas vizinhas me distraiu.
- Pobre Martha! Ela não aguentava mais! Entendo ela, passei por isso! - disse uma delas.
- Mas é sangue frio mesmo! - exclamou a outra - colocar todos os dias um pouco de arsênico no café com leite do seu marido!
- E por quanto tempo ela fez isso?
- Durante 38 anos, 11 meses e 18 dias!

Tradução e correções: Paola Turco e Mario Schiavelli

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