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19/04/2015

A sabedoria é idosa. Os velhos são mais sábios?



A sabedoria humana atinge o seu ápice justamente quando outras aptidões do cérebro começam a diminuir; é uma dádiva ou algo que se desenvolve com o tempo? Ela é uma forma de processamento mental muito avançada, que atinge seu auge apenas na velhice, justamente a época em que a capacidade do nosso cérebro começa a diminuir. Mas o que é a sabedoria, afinal de contas? Os dicionários dizem que é a qualidade de ter experiência, conhecimento e capacidade de fazer bons julgamentos. É a capacidade de ‘saber’ a solução de um problema complicado ou inesperado de maneira praticamente instantânea e sem esforço mental. É também a capacidade de conseguir antecipar eventos que costumam pegar as pessoas desprevenidas. Mais do que simplesmente saber reconhecer uma situação de crise, por exemplo, o mecanismo da sabedoria permite enxergar formas de resolvê-la. Mesmo que a pessoa nunca tenha atravessado uma situação igual. A chave para esse processo é a nossa capacidade de identificar padrões. Isso funciona também com situações e na resolução de problemas. Se não fosse por essa capacidade, cada objeto e cada situação que encontrássemos durante a vida seria tratado como uma coisa totalmente nova, e seríamos incapazes de usar nossas experiências anteriores. A habilidade de reconhecer semelhanças entre problemas aparentemente novos e outros já resolvidos é definido como competência. Quanto maior o número de experiências e padrões acumulados por uma pessoa competente, maior a sua experiência num determinado campo. É por isso que um médico com vários anos de trabalho acumulados consegue resolver problemas melhor do que um recém-formado, apesar de o treinamento de ambos ser muito semelhante. Todos nós, em maior ou menor grau, possuímos competência e conseguimos acumular experiência. Á a sabedoria é vista como a versão mais avançada dessas habilidades e exige uma forte mente analítica e uma biblioteca de padrões bastante abrangente. À medida que as relações entre os diversos padrões vão sendo processadas pelo cérebro, elas vão formando redes de neurônios. São “circuitos” de memórias relacionadas que contam com diversas maneiras de ser ativados. A sabedoria, então, seria consequência de uma grande quantidade de redes no cérebro da pessoa. E tanto elas quanto os padrões levam tempo para serem acumulados em quantidade suficiente para resolver problemas de maneira rápida e eficiente. A relação entre sabedoria e envelhecimento não tem a ver somente com o acúmulo de experiências. Outro fator importante são as mudanças que ocorrem na forma como o cérebro lida com informações. O lado direito (esquerdo no caso dos canhotos), responsável pelo processamento de informações novas, costuma sentir os efeitos do envelhecimento antes do lado esquerdo, onde se concentra boa parte da nossa memória de longo prazo. Na prática, a experiência e a sabedoria acabam conseguindo compensar parcialmente essa perda. Quando somos jovens, a maior parte do nosso poder de processamento é empregada em tentar entender o mundo e as situações com as quais nos confrontamos. Esse poder diminui com a idade. Em contrapartida, a maioria dos problemas que surgem pode ser resolvida com base na comparação com os padrões que foram acumulados. Isso demanda muito menos trabalho do nosso cérebro do que tentar entender uma situação completamente nova. A forma como a memória começa a falhar com a idade também tem um papel importante. O início do declínio mental costuma coincidir com a aposentadoria, época em que os desafios do dia-a-dia diminuem consideravelmente. Somando tudo isso, fica fácil perceber que, na prática, a sabedoria trata-se mais de uma troca do que de uma supercapacidade. Em outras palavras, não como o ápice do nosso processamento mental, mas como um mecanismo biológico para compensar a queda de capacidades como a concentração e a aquisição de novos conhecimentos.  Apesar de inevitável, o declínio mental é gradual em pessoas que não têm doenças degenerativas, com o mal de Alzheimer. Isso significa que é possível aproveitar bem as vantagens que a sabedoria traz. Há diversas tarefas mentais nos quais os idosos têm resultados tão bons quanto os de pessoas mais jovens. Talvez seja a experiência e a sabedoria que nos permitam viver mais anos. Os mais velhos contribuem de uma maneira crítica para a sobrevivência da espécie por outros meios, particularmente na transmissão do seu conhecimento acumulado para as gerações mais novas por meios culturais, como a linguagem. Assim como nem todos os idosos apresentam demências graves, nem todos atingirão a sabedoria. Embora o potencial de certas pessoas seja maior que o de outras, é preciso desenvolvê-lo. Expor-se constantemente a novos desafios mentais é um ingrediente muito importante. Sem o acúmulo de experiências que alimentam a biblioteca de padrões, mesmo a mais analítica das mentes não conseguiria chegar à sabedoria. 
 
“A sabedoria começa com a vontade de saber” – Sócrates.

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