A sabedoria humana
atinge o seu ápice justamente quando outras aptidões do cérebro começam a diminuir; é uma dádiva ou algo que
se desenvolve com o tempo? Ela é
uma forma de processamento mental muito avançada, que atinge seu auge apenas na
velhice, justamente a época em que a capacidade do nosso cérebro começa a diminuir.
Mas o que é a sabedoria, afinal de contas? Os dicionários dizem que é a
qualidade de ter experiência, conhecimento e capacidade de fazer bons
julgamentos. É a capacidade de ‘saber’ a solução de um problema complicado ou
inesperado de maneira praticamente instantânea e sem esforço mental. É também a
capacidade de conseguir antecipar eventos que costumam pegar as pessoas
desprevenidas. Mais do que simplesmente saber reconhecer uma situação de crise,
por exemplo, o mecanismo da sabedoria permite enxergar formas de resolvê-la.
Mesmo que a pessoa nunca tenha atravessado uma situação igual. A chave para esse processo é a nossa
capacidade de identificar padrões. Isso funciona também com situações e na
resolução de problemas. Se não fosse por essa capacidade, cada objeto e cada
situação que encontrássemos durante a vida seria tratado como uma coisa
totalmente nova, e seríamos incapazes de usar nossas experiências anteriores. A
habilidade de reconhecer semelhanças entre problemas aparentemente novos e
outros já resolvidos é definido como competência. Quanto maior o número de experiências e padrões acumulados por
uma pessoa competente, maior a sua experiência num determinado campo. É por
isso que um médico com vários anos de trabalho acumulados consegue resolver
problemas melhor do que um recém-formado, apesar de o treinamento de ambos ser
muito semelhante. Todos nós, em maior ou menor grau, possuímos competência e
conseguimos acumular experiência. Á a sabedoria é vista como a versão mais
avançada dessas habilidades e exige uma forte mente analítica e uma biblioteca de
padrões bastante abrangente. À
medida que as relações entre os diversos padrões vão sendo processadas pelo
cérebro, elas vão formando redes de neurônios. São “circuitos” de memórias
relacionadas que contam com diversas maneiras de ser ativados. A sabedoria,
então, seria consequência de uma grande quantidade de redes no cérebro da
pessoa. E tanto elas quanto os padrões levam tempo para serem acumulados em
quantidade suficiente para resolver problemas de maneira rápida e eficiente. A
relação entre sabedoria e envelhecimento não tem a ver somente com o acúmulo de
experiências. Outro fator importante são as mudanças que ocorrem na forma como
o cérebro lida com informações. O lado direito (esquerdo no caso dos canhotos),
responsável pelo processamento de informações novas, costuma sentir os efeitos
do envelhecimento antes do lado esquerdo, onde se concentra boa parte da nossa
memória de longo prazo. Na prática, a experiência e a sabedoria acabam
conseguindo compensar parcialmente essa perda. Quando somos jovens, a maior
parte do nosso poder de processamento é empregada em tentar entender o mundo e
as situações com as quais nos confrontamos. Esse poder diminui com a idade. Em
contrapartida, a maioria dos problemas que surgem pode ser resolvida com base
na comparação com os padrões que foram acumulados. Isso demanda muito menos
trabalho do nosso cérebro do que tentar entender uma situação completamente
nova. A forma como a memória começa a falhar com a idade também tem um papel
importante. O início do declínio mental costuma coincidir com a aposentadoria,
época em que os desafios do dia-a-dia diminuem consideravelmente. Somando tudo isso, fica fácil perceber que, na prática, a sabedoria
trata-se mais de uma troca do que de uma supercapacidade. Em outras palavras,
não como o ápice do nosso processamento mental, mas como um mecanismo biológico
para compensar a queda de capacidades como a concentração e a aquisição de
novos conhecimentos. Apesar de
inevitável, o declínio mental é gradual em pessoas que não têm doenças
degenerativas, com o mal de Alzheimer. Isso significa que é possível aproveitar
bem as vantagens que a sabedoria traz. Há diversas tarefas mentais nos quais os
idosos têm resultados tão bons quanto os de pessoas mais jovens. Talvez seja a
experiência e a sabedoria que nos permitam viver mais anos. Os mais velhos
contribuem de uma maneira crítica para a sobrevivência da espécie por outros
meios, particularmente na transmissão do seu conhecimento acumulado para as
gerações mais novas por meios culturais, como a linguagem. Assim como nem todos
os idosos apresentam demências graves, nem todos atingirão a sabedoria. Embora
o potencial de certas pessoas seja maior que o de outras, é preciso
desenvolvê-lo. Expor-se constantemente a novos desafios mentais é um
ingrediente muito importante. Sem o acúmulo de experiências que alimentam a
biblioteca de padrões, mesmo a mais analítica das mentes não conseguiria chegar
à sabedoria.
“A sabedoria começa com a
vontade de saber” – Sócrates.
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