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03/10/2016

Você é feliz? Ou Você está feliz agora?


Duas perguntas diferentes. A primeira, pergunta se você está satisfeito com o andamento da sua vida. A segunda, pergunta se você está feliz neste momento. Somando essas duas coisas, qual é o saldo final? Feliz ou infeliz? A felicidade é uma mistura do presente com o passado. Só que o presente dura muito pouco. Para ser mais exato, 3 segundos.





A cada 3 segundos, ele se torna passado. Essa ideia surgiu em estudos do psicólogo francês Paul Fraisse e hoje é aceita por diversos pesquisadores. Após 3 segundos, todas as informações que passam pela sua cabeça saem da consciência e são arquivadas nos sistemas de memória do cérebro. Isso significa que você enxerga a própria vida, fundamentalmente, através da memória. Na prática, ela é o fator que mais pesa na felicidade, mas está longe de ser confiável. Quase sempre nossas lembranças omitem ou distorcem detalhes do que aconteceu.

A ciência está começando a entender como esse processo acontece. A memória é influenciada por dois mecanismos. O primeiro é a negligência sobre a duração das nossas experiências, ou seja, um instante de alegria intensa vale mais do que uma semana de felicidade moderada. E o segundo é a tendência a atribuir muita importância aos momentos que vêm por último e isso pode nos levar a julgamentos equivocados.
A memória negligencia a duração dos eventos, e isso não colabora com nossa preferência por prazeres prolongados e dores curtas. Isso leva ao primeiro segredo para influenciar a memória: buscar experiências que rendam muitas lembranças - mesmo que elas não sejam necessariamente o que você mais deseja fazer. A memória precisa da emoção. A nossa memória não foi desenvolvida para guardar tudo. Temos a tendência de nos lembrarmos melhor de coisas que têm colorido emocional. A memória privilegia os momentos em que vivemos as emoções mais fortes. É um recurso evolutivo.  

Por isso ficamos entediados com as obrigações do dia a dia: a rotina não produz sentimentos intensos. A memória é refém dos picos de emoção. Por isso, para ser feliz, temos que evitar situações que possam gerar memórias negativas, mesmo que elas também prometam alguma recompensa. Um prêmio tende a virar rotina depois de um certo tempo, mas as frustrações ficam marcadas na memória.

Nossas próprias memórias não são confiáveis. O simples ato de se lembrar de uma coisa é o suficiente para distorcê-la. Isso tem uma explicação neurológica. As memórias são armazenadas na forma de conexões semipermanentes entre neurônios. Quando você se lembra de alguma coisa, essas conexões se tornam instáveis e quimicamente sujeitas a modificações e distorções. A cada vez que você acessa uma memória, ela pode ser alterada. É possível reprogramar lembranças ruins. Quando utilizamos as nossas memórias, a informação fica suscetível a mudanças, durante um tempo que pode durar horas. Essa maleabilidade é importantíssima. As memórias ficam instáveis quando as acessamos justamente para permitir que novas informações sejam agregadas a elas.

Se a memória humana fosse 100% imutável, ninguém conseguiria aprender nada.

A readaptação de memórias é um processo natural que acontece a todo momento sem que você perceba. Não temos total controle sobre esse mecanismo nem os cientistas estão convictos do nosso poder sobre ele. Dependemos de uma vida feliz no presente para conviver melhor com os acontecimentos do passado e para produzir boas lembranças das coisas que estamos vivendo agora. Mas não serve qualquer tipo de felicidade. É preciso buscar um tipo específico de felicidade, que dribla as limitações da memória humana. O truque é provocar variações no cotidiano, o que fará com que ele se enquadre na categoria de eventos "diferentes" e acabe gravado na memória. 

Os hábitos são uma grande oportunidade, porque podemos mudá-los. 

Também é fundamental ter objetivos. Ter metas é importante porque influencia o presente - e, como o presente só dura 3 segundos, influencia também a memória. 

O segundo caminho é encontrar alguma coisa de que você goste muito, mas muito mesmo. Isso tem uma importância maior do que parece.  Quem sente uma concentração absoluta, quem não vê o tempo passar diante de uma atividade complicada mas agradável, vai querer repetir a experiência. As pessoas felizes costumam relatar a necessidade de repetir com frequência a experiência de "parar o tempo", um conceito conhecido como "fluxo". O que você atinge é um fluxo, e, quanto mais você investe nas suas maiores forças, maior o fluxo que você atinge na sua vida. É como se os benefícios dessas experiências prazerosas irrigassem satisfação para outras áreas da vida, criando condições para que você estabeleça um fluxo positivo para produzir memórias mais interessantes sobre o presente e para reinterpretar recordações do passado. Seja qual for a sua escolha, boas memórias dependem do contato com essa fluidez. Quando sentimos a felicidade acontecendo no presente, e não somente no passado.

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